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sábado, 6 de abril de 2013

Romance Corpo a Corpo...rativo

Em uma empresa de grande porte, Nelson e Marlene eram analistas de áreas diferentes. Ele, da área jurídica. E, ela, da área de operações. Como em toda empresa que busca as tão aclamadas multidisciplinaridade e sinergia, os dois costumavam participar das reuniões em que havia projetos em comum.

Aos poucos, foram percebendo que concordavam em muitos aspectos do trabalho e passaram a sair juntos para almoçar. No começo, levavam outros colegas. Porém, ao longo do tempo, a empatia entre os dois cresceu tanto, que resolveram deixar os colegas de lado.

Nos primeiros almoços a dois, o assunto era de trabalho. Mas, em pouco tempo, a intimidade eclodiu em confissões de sonhos, gostos, desgostos e carências. O interesse extra-trabalho se tornou incontrolável e os dois, livres e desimpedidos que eram, engataram um romance. A empresa permitia o namoro entre funcionários e funcionárias - ou vice-versa. Ou vice-vice. Ou versa-versa -, contanto que pertencessem a áreas diferentes.

Seguindo a lógica genérica do amor nos dias atuais, ou seja, que seja eterno enquanto "duro", seis meses depois o lindo romance de conto de fadas corporativo findou. Até que durou bastante para os parâmetros de hoje. Nelson e Marlene voltaram às suas rotinas normais e, na hora do almoço, cada qual ia com a sua "turma".

Porém, Nelson, filho de um cão chifrudo enrustido que era, passou a contar aos colegas que Marlene tinha... hemorroidas. Isso mesmo, caros amigos e amigas: he-mor-roi-das. E estas simples hemorroidas tomaram uma proporção de escândalo corporativo inacreditável. Certa vez, o Antenor da contabilidade viu Marlene passando e comentou:

- Nossa, essa Marlene é uma gata!

Sua colega Letícia, ao ouvir o que ele disse, se levantou da cadeira, chegou bem pertinho de seu ouvido e cochichou:

- Mas ela tem hemorroidas! - E voltou a se sentar com um sorriso malicioso de canto de boca.

Com tamanha divulgação, embora fosse mesmo muito bonita e atraente, Marlene passou a ser motivo de chacotas e os homens começaram a não se aproximar mais de forma íntima, por medo de se apaixonarem e, consequentemente, se tornarem parte da piada.

Em épocas atuais anti-discriminatórias e de repreensão aos diversos tipos de fobias, defendo que seja urgente a necessidade de um herói ou uma heroína - pode inclusive ser você, bela Marlene - defensor(a) das pessoas com hemorroidas no Congresso Nacional. Alguém que tenha hemorroidas, entenda os anais da questão - sem trocadilhos infames com um assunto de tamanha seriedade - e seja perseverante, combatente e implacável à hemorroidofobia.

Amigos e amigas que tenham hemorroidas: levantem agora de suas cadeiras, encham o peito com vontade e bradem:

- Tenho orgulho das minhas hemorroidas!

Vocês têm todo o meu apoio e cabe aqui minha confissão: eu não tenho hemorroidas, sou somente simpatizante ao movimento. E não venham com essa prosa revolucionária de querer bisbilhotar meus fundos. O movimento de vocês deve ser pacífico!

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