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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Capitã Nascimento (Parte 4): Há males que vêm para o bem

O período de troca de presidência costuma ser um tanto complicado. Os funcionários da empresa ficam se perguntando quais serão as novidades, sejam boas ou ruins. As boas, como por exemplo, aumento de salário, costumam ser mais raras. As ruins, como corte de pessoas, costumam ser mais frequentes.

As áreas, através de seus gestores e gestoras, procuram mostrar à nova presidência o quanto são imprescindíveis para a empresa. Mas, por vezes, o esforço é em vão. Áreas inteiras acabam sendo extinguidas e outras são "enxugadas". Nesta barca, uma quantidade razoável de funcionários perde o emprego.

Até a data daquela inesquecível quarta-feira, a área operacional, gerida pela Capitã Nascimento, ainda não havia sofrido nenhuma baixa. Por volta de dez e meia da manhã, a meiga Lídia, chefe da Capitã Nascimento, chamou Estevão, analista com 6 anos de empresa, para uma conversa:

- Tudo bom, Estevão?
- Tudo bem.
- Bom, irei direto ao assunto. Como você sabe, com a chegada do novo presidente, a empresa está passando por um período de reestruturação em todas as suas áreas.
- Sei, sim.
- Algumas áreas estão se desfazendo e outras estão sendo enxugadas.

Estevão, calado, começou a ficar com a pulga atrás da orelha. Lídia prosseguiu:

- Nesse novo cenário, parte dos funcionários das áreas extintas e enxugadas será realocada nas áreas remanescentes. Pensávamos que em nossa área só chegaria uma marolinha, mas também seremos obrigados a diminuir nosso quadro de funcionários. Por isso, entramos em contato com o RH para conversar sobre o seu caso e tentar realocá-lo em outra área.
- E então? - perguntou Estevão, com o coração a mil.
- Todas as vagas estão preenchidas. Infelizmente a empresa não poderá mais contar com você. Mas agradecemos imensamente por toda a colaboração que você nos proporcionou ao longo desses seis anos.

Estevão, confuso, retrucou:

- Mas, Lídia... Esse momento é muito complicado para mim. Minha esposa está grávida de seis meses.
- Sinto muito, Estevão. Tentamos fazer o possível para mantê-lo no quadro de funcionários.
- Mas por que eu fui o escolhido? Sou um profissional melhor que o Aírton, por exemplo. E a esposa dele não está grávida! Por que vocês escolheram a mim e não ao Aírton? - perguntou Estevão, com as mãos tremendo e a voz embargada.
- Sinto muito, Estevão. Tentamos fazer o possível...

Resignado, restou ao pobre Estevão chorar copiosamente. Lídia deu-lhe um abraço de despedida e ele foi até a sala da equipe com a qual trabalhava para se despedir das pessoas. Ainda chorando muito, abraçou um por um. A equipe tinha cerca de 20 funcionários. Coincidentemente, a última pessoa de quem ele se despediu foi sua chefe direta, a Capitã Nascimento.

Utilizando toda sua sensibilidade feminina, Capitã Nascimento deu-lhe um abraço, segurou seus ombros, sorriu e disse:

- Há malas que vão para Belém!

Querendo fazer um trocadilho com a célebre frase "há males que vêm para o bem", a Capitã Nascimento acabou, sem querer, chamando o esforçado Estevão de mala e, ainda por cima, o mandou para Belém. Pelo menos foi esta a piada que perdurou por alguns meses entre os funcionários, até que todos esquecessem por completo a existência do digníssimo Estevão.

Completando a infame piada, resta saber se, naquele momento, a Belém que a Capitã Nascimento idealizou foi a capital do Pará ou a terra onde Jesus nasceu, que fica um pouquinho mais distante. Estevão podia ter ido embora sem essa. Osso duro de roer.

domingo, 28 de abril de 2013

Capitã Nascimento (Parte 3): O Pensador

Quando houve troca de presidente na empresa, ocorreu aquele sacolejo inicial: algumas áreas extintas, aquele downsizezinho básico com algumas centenas de cortes... Capitã Nascimento reuniu-se então com toda sua equipe em uma sala reservada para explicar as novas diretrizes da área. Falou que aquele momento de transição era muito complicado e que, para que a área sobrevivesse no novo cenário da empresa, seriam necessários muito empenho e trabalho em equipe.

Comentou e criticou erros do passado, não mediu palavras para criticar processos e comportamentos que fossem impróprios e trabalhos que estivessem mal feitos. Embora ela não tivesse citado nomes, dava para perceber funcionários soltando fogo pelas ventas. Mas, enfim, Capitã Nascimento queria colocar os pingos nos is e melhorar o desempenho da equipe. Após seu discurso, Carlos ergueu a mão e pediu a palavra, fazendo as seguintes ponderações:

- Chefe, nós entendemos que este momento de transição é complicado e que devemos sempre procurar melhorar o nosso trabalho e o nosso comportamento. A grande questão é que há bastante tempo já estamos trabalhando muito, fazendo forças tarefas de segunda-feira a sábado... Eu acredito que nós poderíamos parar um pouco com esta correria e pensar em uma forma mais produtiva de realizarmos o nosso trabalho. Posso parar o que estou fazendo por um dia para pensar?

Capitã Nascimento ouviu atentamente as ponderações de Carlos, deu uma pausa de cinco segundos, esboçou um amável sorriso e respondeu:

- Porra, Carlos!!! O bicho pegando dentro da empresa e você aí querendo pensar???

Capitã Nascimento (Parte 2): Toca Raul!

Numa época em que se trabalhava de doze a catorze horas por dia, devido à meta de produtividade absurda estabelecida pela empresa para a área operacional, Capitã Nascimento incorporou o verdadeiro espírito Tropa de Elite: missão dada é missão cumprida. Cumprida e comprida, também. Tão comprida que a semana de trabalho não poucas vezes se estendeu da segunda-feira ao sábado.

As noites cansativas de trabalho durante os dias úteis e os sábados de sacrifício eram denominados "Força Tarefa". Durante todas as forças tarefas, para amenizar o ambiente, Capitã Nascimento ligava um pequeno aparelho de som, daqueles microsystems, que tinha um grande botão redondo giratório para mudar a estação. Certa noite, estava tocando Raul Seixas na rádio. Toca Raul!

Veja
Não diga que a canção está perdida
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez

Beba
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Tente é o caralho! Zaaaaaaaaapt!

Sim, essa última frase foi uma participação especial da Capitã Nascimento. E o "zapt" foi a mãozada que ela deu no botão redondo do microsystem para mudar a estação. Este evento certamente perturbou o sono eterno do nosso Raulzito.

Capitã Nascimento (Parte 1): Pele grossa, memória curta e espinha flexível

No mundo corporativo dos dias atuais, muito se fala no termo resiliência. Resumindo (ou melhor, copiando da Wikipedia), para quem não sabe, a resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico.

Pois conheci uma pessoa que era tudo isso, pelo menos dentro do ambiente de uma empresa. E era uma mulher, gerente operacional. Ela inclusive gostava de partilhar o seu lema com os funcionários e outros gestores:

- Pele grossa, memória curta e espinha flexível!

Não sei se após um dia de trabalho repleto de problemas e discussões, ao chegar em casa, o seu lado sensível feminino falava mais alto e ela chorava abraçada ao seu travesseiro, enquanto assistia "Ghost, do Outro Lado da Vida". Mas, no dia a dia do trabalho, a mulher era uma legítima Capitã Nascimento.

Sempre achei uma grande bobagem essa história de mulher ser o sexo frágil. Nasci já na época em que "Do you wanna dance" era tocada pelos Ramones. Imagina que romântico. Sem essas frescuradas de "uma flor para outra flor", puxar cadeira no restaurante para a donzela (um ser extinto da sociedade) se sentar e abrir qualquer porta dizendo "primeiro as damas". Aliás, os homens até realizam este último ritual citado, com o intuito de sacanear os amigos. Mas, voltando ao assunto, ao vê-la trabalhando, conversando ou discutindo, os homens certamente se sentiam o sexo frágil.

Quando o bicho pegava e gestores de outras áreas começavam a, como ela mesmo dizia, "jogar pedras no telhado dela", não havia essa história de "por favor", "por obséquio", "será que você poderia...". Ela chamava um ou mais funcionários, normalmente do sexo feminino, que pudessem auxiliá-la e dizia:

- Me ajuda a redigir a resposta desse e-mail que o Heitor do financeiro enviou. Porra! Ele enviou com cópia para Deus e o mundo, me dando uma cravada por trás... e sem KY!

Após tenros desabafos como este, Capitã Nascimento continuava trabalhando com o pulso firme, sem qualquer abalo emocional aparente.

domingo, 7 de abril de 2013

Aromas da Vida Corporativa

Tempos difíceis. Pressões de todos os lados. Falhas que se repetiam. E, no meio do tiro cruzado, Almeida, gerente da área financeira de uma grande companhia. Balanços que não batiam. Absenteísmo frequente de alguns funcionários. Alta rotatividade de pessoas e, como não podia deixar de ser, funcionários repetindo, a boca miúda, aquelas eternas verdades corporativas:  "Tá vendo? O Ezequiel saiu da empresa e levou consigo todo o conhecimento que tinha do negócio! A empresa prepara os funcionários não para ela, mas para o mercado! Sem um plano de carreira decente e crescimento, as pessoas saem mesmo!" O momento não estava nem um pouco favorável para o Almeida.

Sua caixa de e-mails estava lotada de mensagens que não conseguia responder, porque ele precisaria de pelo menos trinta horas por dia para resolver o que tinha que resolver. E quase cem por cento das mensagens que recebia chegavam com o ícone ameaçador de carta pegando fogo. Está certo que muita gente sem noção costuma usar esse ícone para enviar mensagens do tipo: "Oi! Vamos almoçar hoje no Delírio Equatorial?" Mas, no cenário que o Almeida enfrentava, e-mails pegando fogo eram a visão do inferno.

Ele sentia vontade de ligar para a área de informática e perguntar: "Edmílson, tem como vocês apagarem todo o histórico, inclusive os backups, de todas as mensagens que estão marcadas como não lidas da minha caixa de entrada?" Só que esta pergunta somente ocorria em seus sonhos conturbados, nas duas únicas horas da noite em que conseguia vencer a insônia e adormecer. Nestes sonhos desesperados do Almeida, o papel do Edmílson era quase equivalente àquela mulher amada por tantos anos e que, finalmente, está no altar prestes a dizer "sim". O problema é que o Almeida acordava sempre um segundo antes do "sim" do Edmílson.

Por seus catorze anos de experiência em gestão, Almeida sabia que a corda estava roendo para o seu lado. Todos os dias, logo que chegava ao trabalho com olheiras típicas de gladiadores do UFC após a luta que perderam por nocaute técnico, aparecia alguém esbaforido informando quinze notícias alarmantes em uma cajadada só. E não dava nem tempo de agir, pois, logo depois, Herbert (diretor financeiro) e os gestores de outras áreas afetadas pelos problemas causados pela sua área o convidavam para uma torturante reunião emergencial.

Cada corpo humano possui uma reação diferente aos estresses. Com o Almeida não era diferente. Sempre que ocorriam reuniões difíceis, ele ficava um tanto indisposto e, usando um termo bem popular, precisava dar uma barrigada. Logo que acabava a reunião, disfarçava em sua sala para manter a compostura e ninguém perceber e... zapt! Caminhava a passos firmes, dando bom dia com um sorriso sofrido e amarelo - do tipo que chega dar cãibra no maxilar - a todos os que cruzavam com ele nos corredores e desaparecia no horizonte do toalete, como se fosse o pote de ouro no final do arco-íris.

Ele era orgulhosamente ateu. Afinal, seguindo os modismos contemporâneos, ser ateu é sinônimo de alguém que já "engoliu" muitos livros, possui "ene" diplomas e, com isso, possui inteligência suficiente para afirmar que Deus não existe e que Jesus era só um maluco, que talvez nem tenha existido, porque não há as suas cinzas para comprovar. O Almeida adorava acompanhar os modismos, ainda que de forma inconsciente. Mas quando estava lá, em um dos poucos momentos que se sentia seguro, sentado na privada, parecia até que estava em um confessionário, repetindo exaustivamente: "Meu Deus, meu Deus, meu Deus, o que eu faço???" Além de muito espiritual, este momento era algo, ao mesmo tempo, filosófico e reflexivo: "Será que não é melhor eu chutar o balde? Vou cair fora dessa merda."

Ao fim de uma dessas experiências de quase transe do Almeida, ele seguiu o ritual de sempre:
  1. Respirou fundo;
  2. Pegou o papel higiênico;
  3. Limpou-se com a mão direita;
  4. Levantou-se;
  5. Ajeitou sua camisa como se a estivesse passando com a mão esquerda;
  6. Abaixou-se;
  7. Ergueu a cueca com a mão esquerda e o polegar da mão direita;
  8. Transpôs a cueca sobre a camisa. Nessa hora, sempre se lembrava, com uma dose de emoção, de sua doce e falecida mãe lhe ensinando a se vestir socialmente, na época em que era estagiário: "Filho, coloca a cueca em cima da camisa, porque, quando você sentar, a camisa não pula para fora da calça";
  9. Abaixou-se novamente;
  10. Ergueu a calça, que raspou suavemente na louça externa da privada, com a mão esquerda e o polegar da mão direita;
  11. Abotoou a calça. Sempre, nesse momento, toda a sua técnica de usar somente a mão esquerda e o polegar da mão direita para não sujar a roupa com essência de merda ia por água abaixo;
  12. Abotoou o cinto, já resignado por parte do seu processo de uso das mãos ser falho;
  13. Abriu a porta do cubículo;
  14. Caminhou para a pia;
  15. Lavou as mãos;
  16. Olhou-se no espelho e;
  17. Ajeitou os cabelos.
Ele sempre aproveitava suas mãos úmidas para ajeitar os cabelos, não precisando assim utilizar o papel toalha para enxugá-las. Olhava para o papel toalha, depois olhava para suas mãos secas e dizia a si mesmo: "Uma árvore a menos será derrubada..." E, segundos antes de sair do banheiro e voltar à dura realidade, já com a mão na maçaneta, concluía mentalmente, com um sorriso maroto de canto de boca: "Esses processos do banheiro, o PMBOK não ensina..."

Almeida abriu a porta do banheiro, endireitou sua postura e seguiu a passos firmes em direção à sua sala. Todo aquele protocolo de se forçar a cumprimentar as pessoas que cruzavam com ele nos corredores foi repetido, mas desta vez havia algo estranho no ar. As pessoas olhavam para ele com estranheza. Uns franziam a testa, outros riam com os olhos, outros sorriam maliciosamente... Ele começou a temer pelo pior e novamente teve um quase transe espiritual-filosófico-reflexivo: "Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Será que vou ser demitido??? Olha a cara do Alfredo! Do César! Do Aguiar! Ai, caralho... Eles são meus inimigos políticos! Estou fodido, fudeu, fudeu, fudeu..."

Ele e os outros funcionários da empresa que ocupavam cargos que envolvessem gestão de pessoas - supervisores, coordenadores, gerentes, diretores e presidente - haviam feito aqueles cursos que ensinam a não mudar a expressão facial em momentos de estresse, raiva ou de outras emoções que precisem ser controladas. Porém, o Almeida não estava conseguindo controlá-las perfeitamente. O Alfredo, o César e o Aguiar, também não. A diferença é que, enquanto a expressão nos olhos do Almeida era de terror, a expressão nos olhos dos outros três era de riso convulsivo prestes a irromper.

Quando chegou à sua sala, que era ampla e contava com uma equipe de vinte funcionários, estavam também presentes o Herbert (diretor financeiro) e mais três gestores de outras áreas da empresa, além da faxineira pertencente a uma empresa terceirizada, que estava esvaziando as lixeiras dos funcionários em um grande saco preto. Quando chegou ao centro da sala, olhou em volta e todos o estavam novamente observando com estranheza. A mesma história: uns franziam a testa, outros riam com os olhos, outros sorriam maliciosamente... Desta vez, não tinha jeito. O Almeida já estava resignado. O pior ia mesmo acontecer. Como estava no centro da sala e todos os outros estavam ao seu redor, sentiu-se como se fosse um Robespierre da vida prestes a ser guilhotinado em praça pública.

Ficou ali, paralisado. Escutou, vagarosamente, os passos de Herbert se aproximando. Sentiu a mão de Herbert encostar em seu ombro, fechou os olhos em uma fração de segundo e pensou: "Pronto, a agonia acaba agora. Ele vai me chamar para uma reunião e me demitir." Herbert observou mais um pouco e... mais um pouco e... mais um pouco. Almeida, incomodado, pensou: "Porra!!! Por que esse viado está olhando tanto para a minha bunda???" Herbert então ficou frente a frente com o Almeida e disse:

- Caro Almeida, não sei nem como lhe dar essa notícia.

A apreensão do Almeida aumentou mais ainda. Herbert continuou:

- É que, observando os seus trajes, notei a presença de um item a mais.
- Co-como assim, um item a mais?
- É! Nas suas costas, acima dos seus glúteos, enganchado nas suas calças. Parece-me ser um daqueles sachês de vaso sanitário... aroma de eucalipto... Está lançando moda, Almeida???

Após essa pergunta um tanto capciosa de seu superior, todas as pessoas ao redor irromperam em gargalhadas descomunais. Pessoas de outras salas se aproximaram para ver o que estava ocorrendo, aumentando ainda mais o coro. Parte teve a "sorte" de ainda ver o sachê de privada enganchado nas calças de um atônito Almeida. Outra parte viu o Almeida já com o sachê na mão, expressão de sorriso no rosto e olhos de tristeza. Aquela sensação de ser guilhotinado, que muitas vezes na história do mundo coube a heróis, foi trocada por outra sensação. Sabe aquele pesadelo que muitas pessoas têm na infância, de que estão no meio do pátio da escola, de camiseta e com todo o resto do corpo nu? E com todas as outras crianças do colégio em volta, rindo? Pois foi assim que o Almeida se sentiu, acordado, naquele momento, na idade adulta.

Um par de meses após essa trágica experiência, o Almeida saiu da empresa. Não sei dizer se ele foi demitido, ou se teve a sorte de conseguir uma oportunidade em outra empresa e fugir do inferno astral pelo qual estava passando, ou se, simplesmente, pediu para sair e repensar a vida. Assim como não consigo explicar como ele, ao se levantar da privada naquele momento decisivamente infeliz, conseguiu ficar com o sachê de privada enganchado em sua calça, bem acima do traseiro. Como dizem os antigos, "são mistérios que conheceremos somente após a nossa morte." Aliás, Almeida, caso queira explicar como isso aconteceu, sinta-se à vontade para postar aqui seu comentário, ok?

Desejo muita sorte a você, Almeida, em seus novos desafios. E acho também que você devia seguir a ideia que, sem querer, seu ex-chefe, o aclamado diretor financeiro Herbert, lhe deu. Lance mesmo essa moda! Nas próximas empresas em que você for trabalhar, já chegue com o sachê de privada, aroma eucalipto, enganchado nos fundilhos logo no primeiro dia de trabalho. Podem achar esquisito no começo, mas você pode adotar um discurso, com a sua equipe, de que este sachê é algo simbólico em sua gestão. Um símbolo de higiene ética, moral, de processos e de trabalho limpo e produtivo. Seus funcionários, que o terão como espelho, começarão também a adotar o uso do sachê. Os bajuladores, então, nem se fale: irão enganchar sachês pela cintura inteira, no bolso da camisa, nos bolsos da calça e no crachá. E, enfim, o melhor de tudo: com um bumbum tão límpido e aromatizado assim... os seus superiores irão pensar um milhão de vezes antes de sujá-lo com uma cravada.

sábado, 6 de abril de 2013

Romance Corpo a Corpo...rativo

Em uma empresa de grande porte, Nelson e Marlene eram analistas de áreas diferentes. Ele, da área jurídica. E, ela, da área de operações. Como em toda empresa que busca as tão aclamadas multidisciplinaridade e sinergia, os dois costumavam participar das reuniões em que havia projetos em comum.

Aos poucos, foram percebendo que concordavam em muitos aspectos do trabalho e passaram a sair juntos para almoçar. No começo, levavam outros colegas. Porém, ao longo do tempo, a empatia entre os dois cresceu tanto, que resolveram deixar os colegas de lado.

Nos primeiros almoços a dois, o assunto era de trabalho. Mas, em pouco tempo, a intimidade eclodiu em confissões de sonhos, gostos, desgostos e carências. O interesse extra-trabalho se tornou incontrolável e os dois, livres e desimpedidos que eram, engataram um romance. A empresa permitia o namoro entre funcionários e funcionárias - ou vice-versa. Ou vice-vice. Ou versa-versa -, contanto que pertencessem a áreas diferentes.

Seguindo a lógica genérica do amor nos dias atuais, ou seja, que seja eterno enquanto "duro", seis meses depois o lindo romance de conto de fadas corporativo findou. Até que durou bastante para os parâmetros de hoje. Nelson e Marlene voltaram às suas rotinas normais e, na hora do almoço, cada qual ia com a sua "turma".

Porém, Nelson, filho de um cão chifrudo enrustido que era, passou a contar aos colegas que Marlene tinha... hemorroidas. Isso mesmo, caros amigos e amigas: he-mor-roi-das. E estas simples hemorroidas tomaram uma proporção de escândalo corporativo inacreditável. Certa vez, o Antenor da contabilidade viu Marlene passando e comentou:

- Nossa, essa Marlene é uma gata!

Sua colega Letícia, ao ouvir o que ele disse, se levantou da cadeira, chegou bem pertinho de seu ouvido e cochichou:

- Mas ela tem hemorroidas! - E voltou a se sentar com um sorriso malicioso de canto de boca.

Com tamanha divulgação, embora fosse mesmo muito bonita e atraente, Marlene passou a ser motivo de chacotas e os homens começaram a não se aproximar mais de forma íntima, por medo de se apaixonarem e, consequentemente, se tornarem parte da piada.

Em épocas atuais anti-discriminatórias e de repreensão aos diversos tipos de fobias, defendo que seja urgente a necessidade de um herói ou uma heroína - pode inclusive ser você, bela Marlene - defensor(a) das pessoas com hemorroidas no Congresso Nacional. Alguém que tenha hemorroidas, entenda os anais da questão - sem trocadilhos infames com um assunto de tamanha seriedade - e seja perseverante, combatente e implacável à hemorroidofobia.

Amigos e amigas que tenham hemorroidas: levantem agora de suas cadeiras, encham o peito com vontade e bradem:

- Tenho orgulho das minhas hemorroidas!

Vocês têm todo o meu apoio e cabe aqui minha confissão: eu não tenho hemorroidas, sou somente simpatizante ao movimento. E não venham com essa prosa revolucionária de querer bisbilhotar meus fundos. O movimento de vocês deve ser pacífico!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Garoto de Programa Facts

- Garoto de programa não nasce, é desenvolvido através de um processo que dura nove meses, se for utilizada a metodologia ágil. Mas tem vezes que o processo é em cascata, levando muitos anos desde o planejamento até a concepção.

- A primeira coisa que o garoto de programa fala quando nasce é: "Hello World."

- Garoto de programa não apanha, sofre ataque DDOS.

- Garoto de programa não cresce, é estendido.

- Garoto de programa não se organiza, usa padrões de projeto.

- Garoto de programa não amadurece, é exaustivamente testado pelos usuários.

- Garoto de programa não se protege, entra em modo de segurança.

- Garoto de programa não trabalha, executa.

- Garoto de programa não faz sexo, faz processo I/O.

- Garoto de programa não se reproduz, faz Copy-Paste.

- Garoto de programa não ganha dinheiro. É, não ganha mesmo.

- Garoto de programa não dorme. Sofre boot, hiberna (por poucas horas) ou entra em modo sleep.

- Garoto de programa não acorda, é "reinicializado".

- A primeira coisa que o garoto de programa fala quando acorda é: "As definições de vírus foram atualizadas."

- Assim como o ser humano, o garoto de programa adoece quando adquire um vírus.

- Garoto de programa não emagrece, é formatado.

- Garoto de programa não pira, tem memory leak.

- Garoto de programa não se esquece, tem dados deletados do HD.

- Garoto de programa não solta gases, usa o desfragmentador.

- Garoto de programa não insiste, entra em loop.

- Para o garoto de programa, só CTRL+S salva. Ok, essa é velha...

- Para o garoto de programa, Deus programou o mundo em linguagem de máquina. E, no sétimo dia, descansou. Até que faz sentido...

- Para o garoto de programa, o fato do mundo ter sido programado fez com que apresentasse muitos bugs.

- Para o garoto de programa, Extreme Go Horse é a raça dos cavalos dos quatro cavaleiros do apocalipse.

- Garoto de programa não pensa, compila. Ou não.

- Garoto de programa não envelhece, torna-se obsoleto.

- Garoto de programa não morre, é descontinuado (deprecated).